domingo, 27 de março de 2011

nós e os outros

nosotros hibridismo de nós e os outros no ato de um julgamento de uma atitude não condenamos a nós o polvo de nossos mecanismos de defesa condena sempre os outros transferir ferir esses outros desumanos é cinicamente mais fácil julgar a nós nos outros outros e nós híbrido atroz nós e nossos nós nó cego nós cegos no pecado da negação não nos navegamos com o receio da onda quebrar no caudaloso recife de corais de nossa fragilidade mergulhar nos outros o caldo da alma na vida alheia esse espelho sem aço na praia dos outros a areia é quase sempre mais alva para alguns nem doer dói surfar na onda do venha a nós para outros no entanto o vosso reino é um calabouço de angústias lhes deteriorando nos cactos de seus relacionamentos um texto assim mesmo sem maiúsculas ou minúsculas sem pontuação sem respiração caótico confuso tal qual nós tal qual os outros

sexta-feira, 18 de março de 2011

Vida – corredor da morte

No corredor da morte chamado vida os cadafalsos assoalham nossos caminhos de uma extremidade a outra sem pouparem nem mesmo aqueles que construíram impérios materiais indeléveis. O silêncio, na companhia da dor e da perene resignação, abraçará o surdo, o mudo e o cego sem fazer nenhuma cerimônia.
Temos a opção de caminharmos rumo à cascata da finitude com pés calcados de humildade adubando cada hectare de profusão de amor e respeito pelo nosso semelhante de comportamento tão distinto nos permitindo ter a certeza de que com o cerrar das pálpebras e o encontro das mãos sobre o peito mudo o lugar-comum missão cumprida amenizará a dor daqueles poucos que segurarão nossas mãos até o último suspiro.
Mas distribuir flores no breu quente de uma rotina espinhosa é fácil aqui nessa folha de papel no conforto climatizado do meu quarto. Quantas vezes em minhas mãos tive a chave do perdão, mas deixei-a multiplicar-se tornando o peso pesado do molho uma represa de remorso. Perdoar não é praxe das pessoas raquíticas de espírito. Perdoar é um exercício que exige alma hiperbólica. Puxar a descarga do rancor não nos diminui em nada e muito menos tornará nossa passagem por aqui mais efêmera, o máximo que pode acontecer é a caixa de gordura ficar entupida, porém quanto mais vezes ela entupir mais milhas ganharemos no plano de milhagens para o paraíso.
A outra opção é caminharmos calçados de orgulho e empáfia usando todos aqueles que surgirem pela frente como degraus para alcançarmos o que pelo menos acreditamos ser o supra-sumo de nossa existência no plano terreno: A metralhadora do $ucesso e poder.
Armado de sucesso e poder, o próximo que fique bem longe da nossa muralha, chamada por mim, de “umbiguismo.”
Podemos ainda ir mais além pregando dissimuladamente o bem em bocas de ferro para ouvidos carentes e praticar o mal nas esquinas da pequenez humana para só então nos darmos conta lá no final do corredor, na dor da impotência, quão estreito o corredor foi ficando ao longo dos anos.
Acho que meu texto sofreu uma digressão, pois vim aqui escrever sobre a morte, mas fui surpreendido pela vida. Hoje acordei pensando nessa safada.