domingo, 26 de agosto de 2012

Corri pro abraço

Dias pálidos se bronzeiam com abraços apertados, palavras verdadeiras, olhos nos olhos e conversa, muita conversa. Nada de bronzeamento artificial. Esse, vicia e mascara tal qual a felicidade etílica. Definitivamente, troquei as cápsulas de humor químico pelos tonéis de abraços desfibriladores.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Would you face him?

Manaus, Friday, 02:50 p.m, the weather was really hot. I had to go to the bank, I just had ten minutes. The traffic light was red, time to cross the street; suddenly a blue car stopped next to me and the driver who was a tall strong black man looked at me. I was walking toward the crosswalk and again took a look at the blue car and the tall strong black man was still looking at me and taking an X-ray of me. At this moment I felt completely naked. I felt my face getting hot; I think I blushed, so I looked down and walked on. I stopped on the other side of the street and the feeling of being observed was killing me, before crossing the street, my curiosity made me take a look again at that guy, and to my surprise or not, the big black guy was looking at me just like the Wolf used to look at the Little Red Riding Hood. The traffic light then turned green; he drove slowly, smiled and waved at me with his right hand. I smiled in a shy way, nodded my head and ran to the bank. Look, just to be clear, I don’t have any kind of prejudice, but it could have been a hot black woman, couldn’t it?

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Mestre Cuca

O sol já se escondia timidamente instilando um cinza agudo no côncavo do azul como que não querendo presenciar aquele encontro de olhos baços sem nem sequer faiscar uma fagulha de sinergia a ponto de incendiar quarenta e poucas almas, que à primeira vista, se desenharam tão minúsculas.
Olhares atravessados de cima pra baixo fazia daquela sala de produção de conhecimento um verdadeiro formigueiro de desconfiança. Linha cruzada logo no primeiro encontro me fez até apetecer que aquilo fosse tão somente um trote.
Enquanto dava com a língua nos dentes e gastava meu latim, agradecia as paredes por elas terem ouvidos e o discernimento de filtrar entre tantas vozes paralelas o que tinha de informativo naquele meu discurso preliminar.
A essa altura dos acontecimentos a lua linda, surgira nua vestindo de paciência meu corpo lasso de uma longa jornada de trabalho segurando um marcador de quadro branco na mão direita e um apagador branco – como que a pedir paz - na mão esquerda e falando classicamente agora em uma língua bárbara.
Poderia deixar correr à revelia e respeitar as idiossincrasias de cada um naquela sala, porém aquele insólito comportamento comprometeria todo o planejamento de um semestre meticulosamente programado para ser efetivamente bem sucedido.
Então, resoluto a transformar aquela massa heterogênea em homogênea, vesti o avental do mestre Cuca, untei a panela com amor, coloquei um punhado de dedicação, uma pitada de paciência, uma colher de chá de altruísmo, recheio de comprometimento e de cobertura... Superação.
Deixei a sala de aula naquele primeiro encontro com cara de quem comeu e não gostou, hoje redijo esse texto com o sabor doce da saudade e com a certeza de dever cumprido e de um semestre de muito aprendizado para mim. Despeço-me com um grande OBRIGADO!

terça-feira, 26 de abril de 2011

English proverbs

If you want to know your past life,
look into your present condition;
if you want to know your future,
look into your present action.
It is not the wind that is moving;
it is not the flag that is moving;
it is mind that is moving.
There are no holy places and no holy people,
only holy moments, only moments of wisdom

domingo, 27 de março de 2011

nós e os outros

nosotros hibridismo de nós e os outros no ato de um julgamento de uma atitude não condenamos a nós o polvo de nossos mecanismos de defesa condena sempre os outros transferir ferir esses outros desumanos é cinicamente mais fácil julgar a nós nos outros outros e nós híbrido atroz nós e nossos nós nó cego nós cegos no pecado da negação não nos navegamos com o receio da onda quebrar no caudaloso recife de corais de nossa fragilidade mergulhar nos outros o caldo da alma na vida alheia esse espelho sem aço na praia dos outros a areia é quase sempre mais alva para alguns nem doer dói surfar na onda do venha a nós para outros no entanto o vosso reino é um calabouço de angústias lhes deteriorando nos cactos de seus relacionamentos um texto assim mesmo sem maiúsculas ou minúsculas sem pontuação sem respiração caótico confuso tal qual nós tal qual os outros

sexta-feira, 18 de março de 2011

Vida – corredor da morte

No corredor da morte chamado vida os cadafalsos assoalham nossos caminhos de uma extremidade a outra sem pouparem nem mesmo aqueles que construíram impérios materiais indeléveis. O silêncio, na companhia da dor e da perene resignação, abraçará o surdo, o mudo e o cego sem fazer nenhuma cerimônia.
Temos a opção de caminharmos rumo à cascata da finitude com pés calcados de humildade adubando cada hectare de profusão de amor e respeito pelo nosso semelhante de comportamento tão distinto nos permitindo ter a certeza de que com o cerrar das pálpebras e o encontro das mãos sobre o peito mudo o lugar-comum missão cumprida amenizará a dor daqueles poucos que segurarão nossas mãos até o último suspiro.
Mas distribuir flores no breu quente de uma rotina espinhosa é fácil aqui nessa folha de papel no conforto climatizado do meu quarto. Quantas vezes em minhas mãos tive a chave do perdão, mas deixei-a multiplicar-se tornando o peso pesado do molho uma represa de remorso. Perdoar não é praxe das pessoas raquíticas de espírito. Perdoar é um exercício que exige alma hiperbólica. Puxar a descarga do rancor não nos diminui em nada e muito menos tornará nossa passagem por aqui mais efêmera, o máximo que pode acontecer é a caixa de gordura ficar entupida, porém quanto mais vezes ela entupir mais milhas ganharemos no plano de milhagens para o paraíso.
A outra opção é caminharmos calçados de orgulho e empáfia usando todos aqueles que surgirem pela frente como degraus para alcançarmos o que pelo menos acreditamos ser o supra-sumo de nossa existência no plano terreno: A metralhadora do $ucesso e poder.
Armado de sucesso e poder, o próximo que fique bem longe da nossa muralha, chamada por mim, de “umbiguismo.”
Podemos ainda ir mais além pregando dissimuladamente o bem em bocas de ferro para ouvidos carentes e praticar o mal nas esquinas da pequenez humana para só então nos darmos conta lá no final do corredor, na dor da impotência, quão estreito o corredor foi ficando ao longo dos anos.
Acho que meu texto sofreu uma digressão, pois vim aqui escrever sobre a morte, mas fui surpreendido pela vida. Hoje acordei pensando nessa safada.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Ela pode esperar...

São exatamente três horas da manhã quando a fragilidade do silêncio é quebrada na soturna casa 211 da pacata Santa Quitéria com os gritos histéricos do telefone convencional posicionado na estante de mogno da sala de estar. Toques sucessivos com ar de urgência e um hediondo aroma de tragédia, toques daqueles de dizimar até a paciência de Jó.
Seu Isaac acorda aturdido e balbucia algumas palavras incompreensíveis como quem tem um bob de cabelo enrolado na língua e levanta-se muito amuado da rede de punhos puídos. Sempre que tomava seus pileques abria mão de dormir na cama de casal. Era embalado na rede que ele curava suas dores de cabeça ainda que com carapanãs lixando seus ouvidos.
Isaac era do tipo que não gostava de atender nem os telefonemas dos próprios filhos, que dirá um trote de algum desalmado com insônia na taciturna noite de dezoito de outubro - dia comemorado como marco da resistência à morte inevitável. Os filhos há algum tempo já nem telefonavam mais pro velho, pois, as chances de ouvirem poucas e boas eram de proporções homéricas. Paulatinamente Isaac levantara muralhas em sua volta e cavara um fosso levando essa animosidade ao aparato tecnológico a osteoporose de seus relacionamentos familiares. Mas num súbito momento de sobriedade lembrou-se do filho caçula recém integrado à polícia federal e que estava em missão na perigosa cidade de Tabatinga.
O envelhecimento dos tecidos já pesava naquela carcaça óssea de setenta e três Julhos, com alguns remanescentes cabelos grisalhos e uma ressaca dionisíaca lá foi ele desnudo pelo corredor inóspito rumo ao impaciente aparelho telefônico. Nunca Alexander Graham Bell foi tão xingado por tal invenção.
Alô? Judeu? Só pessoas muito íntimas o chamavam por esse apelido colocado por ele mesmo. Mas nem a voz lasciva e o tom de intimidade do outro lado da linha o derreteram.
Isso é hora de telefonar pra casa dos outros? O que é? Foi logo fazendo jus a fama de tolerante zero. Queria voltar o quanto antes para rede de punhos puídos e hibernar por dias, se possível.
Sabe quem está falando? Não. Respondeu assim, seco e lacônico. Já estive em sua casa uma vez e fui muito bem servida. Lembras? Isaac resolveu dar voz ao seu desconhecido lado Pollyana. Sentou-se no sofá e continuou com a conversa fiada. Me perdoe, mas não lembro não minha princesa. Eu sou a General das Trevas.
Zuleide tem o sono sacudido pelo frio insuportável e ao levantar as pálpebras percebe a porta do quarto entreaberta e não vê seu companheiro à cabeceira. Aquela frente fria castigava a extensão do inferno, como era mais conhecida a cidade de Manaus.
Isaac? Isaac? Sem obter resposta foi o jeito levantar-se. Mas sem o par de óculos não chegaria a lugar algum. Zuleide vai tateando sobre a penteadeira com uma cautela que lhe é peculiar até derrubar o Terço de madeira antes de triscar nos seus olhos de vidro. Dona Zuleide, de dogmas religiosos muito sólidos, não ia para cama sem antes rezar todo o Terço do Rosário.
General das Trevas? Bom, não me venha com metáforas a essa hora da noite. Seja sucinta e direta. Eu sou a morte e vou aí te buscar. Uma rasga-mortalha pia ironicamente sobre o telhado úmido.
Houve um silêncio. Depois uma gargalhada. A conversa já durava um quarto de hora.
Ah, és tu então sua vagabunda. Se por aqui quiseres aparecer de novo, gostaria que tu viesses desprovida de calcinha e sutiã. E quando eu deitar minhas coxas entre as tuas sentirás que o buraco aqui é literalmente mais embaixo.
Zuleide a poucos metros dali com o Terço nas mãos e os olhos pousados naquele homem nu foi se embriagando com aqueles sussurros temperados de promiscuidade que o silêncio permitia-lhe ouvir. Aproximou-se de Isaac, colocou o Terço em volta do seu pescoço, cobriu-lhe o corpo com a mortalha do amor e voltou a dormir na espera da morte que insistia em não desligar.