quinta-feira, 23 de junho de 2011

Mestre Cuca

O sol já se escondia timidamente instilando um cinza agudo no côncavo do azul como que não querendo presenciar aquele encontro de olhos baços sem nem sequer faiscar uma fagulha de sinergia a ponto de incendiar quarenta e poucas almas, que à primeira vista, se desenharam tão minúsculas.
Olhares atravessados de cima pra baixo fazia daquela sala de produção de conhecimento um verdadeiro formigueiro de desconfiança. Linha cruzada logo no primeiro encontro me fez até apetecer que aquilo fosse tão somente um trote.
Enquanto dava com a língua nos dentes e gastava meu latim, agradecia as paredes por elas terem ouvidos e o discernimento de filtrar entre tantas vozes paralelas o que tinha de informativo naquele meu discurso preliminar.
A essa altura dos acontecimentos a lua linda, surgira nua vestindo de paciência meu corpo lasso de uma longa jornada de trabalho segurando um marcador de quadro branco na mão direita e um apagador branco – como que a pedir paz - na mão esquerda e falando classicamente agora em uma língua bárbara.
Poderia deixar correr à revelia e respeitar as idiossincrasias de cada um naquela sala, porém aquele insólito comportamento comprometeria todo o planejamento de um semestre meticulosamente programado para ser efetivamente bem sucedido.
Então, resoluto a transformar aquela massa heterogênea em homogênea, vesti o avental do mestre Cuca, untei a panela com amor, coloquei um punhado de dedicação, uma pitada de paciência, uma colher de chá de altruísmo, recheio de comprometimento e de cobertura... Superação.
Deixei a sala de aula naquele primeiro encontro com cara de quem comeu e não gostou, hoje redijo esse texto com o sabor doce da saudade e com a certeza de dever cumprido e de um semestre de muito aprendizado para mim. Despeço-me com um grande OBRIGADO!

terça-feira, 26 de abril de 2011

English proverbs

If you want to know your past life,
look into your present condition;
if you want to know your future,
look into your present action.
It is not the wind that is moving;
it is not the flag that is moving;
it is mind that is moving.
There are no holy places and no holy people,
only holy moments, only moments of wisdom

domingo, 27 de março de 2011

nós e os outros

nosotros hibridismo de nós e os outros no ato de um julgamento de uma atitude não condenamos a nós o polvo de nossos mecanismos de defesa condena sempre os outros transferir ferir esses outros desumanos é cinicamente mais fácil julgar a nós nos outros outros e nós híbrido atroz nós e nossos nós nó cego nós cegos no pecado da negação não nos navegamos com o receio da onda quebrar no caudaloso recife de corais de nossa fragilidade mergulhar nos outros o caldo da alma na vida alheia esse espelho sem aço na praia dos outros a areia é quase sempre mais alva para alguns nem doer dói surfar na onda do venha a nós para outros no entanto o vosso reino é um calabouço de angústias lhes deteriorando nos cactos de seus relacionamentos um texto assim mesmo sem maiúsculas ou minúsculas sem pontuação sem respiração caótico confuso tal qual nós tal qual os outros

sexta-feira, 18 de março de 2011

Vida – corredor da morte

No corredor da morte chamado vida os cadafalsos assoalham nossos caminhos de uma extremidade a outra sem pouparem nem mesmo aqueles que construíram impérios materiais indeléveis. O silêncio, na companhia da dor e da perene resignação, abraçará o surdo, o mudo e o cego sem fazer nenhuma cerimônia.
Temos a opção de caminharmos rumo à cascata da finitude com pés calcados de humildade adubando cada hectare de profusão de amor e respeito pelo nosso semelhante de comportamento tão distinto nos permitindo ter a certeza de que com o cerrar das pálpebras e o encontro das mãos sobre o peito mudo o lugar-comum missão cumprida amenizará a dor daqueles poucos que segurarão nossas mãos até o último suspiro.
Mas distribuir flores no breu quente de uma rotina espinhosa é fácil aqui nessa folha de papel no conforto climatizado do meu quarto. Quantas vezes em minhas mãos tive a chave do perdão, mas deixei-a multiplicar-se tornando o peso pesado do molho uma represa de remorso. Perdoar não é praxe das pessoas raquíticas de espírito. Perdoar é um exercício que exige alma hiperbólica. Puxar a descarga do rancor não nos diminui em nada e muito menos tornará nossa passagem por aqui mais efêmera, o máximo que pode acontecer é a caixa de gordura ficar entupida, porém quanto mais vezes ela entupir mais milhas ganharemos no plano de milhagens para o paraíso.
A outra opção é caminharmos calçados de orgulho e empáfia usando todos aqueles que surgirem pela frente como degraus para alcançarmos o que pelo menos acreditamos ser o supra-sumo de nossa existência no plano terreno: A metralhadora do $ucesso e poder.
Armado de sucesso e poder, o próximo que fique bem longe da nossa muralha, chamada por mim, de “umbiguismo.”
Podemos ainda ir mais além pregando dissimuladamente o bem em bocas de ferro para ouvidos carentes e praticar o mal nas esquinas da pequenez humana para só então nos darmos conta lá no final do corredor, na dor da impotência, quão estreito o corredor foi ficando ao longo dos anos.
Acho que meu texto sofreu uma digressão, pois vim aqui escrever sobre a morte, mas fui surpreendido pela vida. Hoje acordei pensando nessa safada.